Contexto Histórico de "Memórias do Cárcere"
Fatos Históricos de Memórias do Cárcere
A nossa atenção é chamada a examinar os laços que prendem o autor do depoimento à historia política brasileira dos anos 30. Acontece, porém, que o depoente é um dos três ou quatro maiores prosadores da nossa literatura, de modo que seria perder-nos em descaminhos querer interpretar as suas lembranças de preso desconsiderando os padrões narrativos e estilísticos que as enfermaram.
As Memórias do cárcere dão o paradigma dessa complexidade textual. Ao percorrê-las, somos levados tanto a reconstituir a fisionomia e os gestos de alguns companheiros de prisão de Graciliano, quanto a contemplar a metamorfose dessa matéria em uma prosa una e única - a palavra do narrador.
Alguma coisa sempre se sabe das crenças e descrenças do narrador. Que ele é refratário ao capitalismo. Que não tem religião nenhuma. Que sente uma antipatia visceral pelo estado prepotente, pela polícia brutal, pelo submundo da política nordestina, pela estupidez burocrática. Mas nada disso o leva a fazer corpo comum com os militantes presos, muitos deles envolvidos na intentona de 35 ou dissidentes do Partido Comunista que já então se digladiavam em polêmicas ferozes. Os atores daquele golpe desastrado pareciam-lhe improvisadores canhestros; e a nossa pequena burguesia de esquerda, incapaz de seguir coerentemente uma liderança revolucionária. Tudo era precário, sem base na vida popular de um Brasil pobre e disperso.
Nenhuma dessas marcas negativas, porém, é trabalhada a fundo, quer em termos teóricos (o crítico não pensa em armar esquemas políticos alternativos), quer em termos práticos: o observador não tem propostas de curto prazo. A certa altura, supõe que será rotulado de "revolucionário chinfrim", sem garra para resistir às injustiças que sabe apontar com tanta agudeza...
Em meio a tanta negação há um capítulo, o 9º da primeira parte, que se lê com alívio. São três páginas simpáticas à pessoa de Luís Carlos Prestes, embora céricas em