CONTARDO CALLIGARIS
A adolescência venceu
Neste fim-de-semana vou assistir a um megacongresso de psicanalistas no Hotel Glória, Rio de Janeiro. O tema é a adolescência. É extraordinário como, sobretudo nos últimos dez anos, a adolescência ganhou todo tipo de holofote. São congressos, livros, teses e até revistas só sobre adolescência.
Deve ser porque os adolescentes têm a presença pesada. Eles exigem (ou imploram, o que dá na mesma) amor ou indignação, raiva ou carinho, tanto faz. Um olhar ou um pontapé: qualquer coisa que assegure que eles existem, diferentes de nós, separados -que eles têm uma imagem própria, reconhecível.
Nesta necessária empreitada, os garotos são mais espalhafatosos: precisam peidar, arrotar ou cheirar voluptuosamente suas próprias meias para se convencer da existência de seu corpo e assim impor sua presença à atenção dos outros. Para as meninas, encontrar e suscitar desejo sexual é geralmente suficiente.
De qualquer forma, mesmo os adolescentes mais bem intencionados não se deixam esquecer: se lembrarem de baixar o volume do som, eis que esquecerão (jeito de falar) no corredor um par de tênis capaz de impor a sólida lembrança olfativa de seu dono. Ou então, se apresentarão de repente de cueca ou toalha na esperança de que a surpresa dos adultos lhes confirme que alguma coisa mudou desde a época na qual seus bumbuns de nenê inspiravam sorrisos enternecidos.
"Será que se dão conta que existo e, sobretudo, que estou ficando diferente?"
A adolescência produz variantes do Cogito Cartesiano -a mais banal sendo: desobedeço, logo existo. Há o complexo do gambá, que se resume assim: se não conseguir ser notado pela faixa de cabelos pintados de loiro que atravessa minha cabeça (estilo gambá), aí largarei o fedor necessário (metafórico ou não) para que se lembrem de mim.
Há a fragilidade da famosa cueca em riste: esses dez centímetros de cuecas samba-canção exibidos acima do cinto das calças baixadas (tomara-que-não-caiam). A cueca em riste contém