construção da imagem pública do governante
Valter Gomes Santos de Oliveira*
Quando o florentino Nicolau Maquiavel escreveu o Príncipe, obra de referência da política moderna, ele o fez endereçado ao grande Lourenço de Médici, então governante da cidade de Florença na Itália do século XVI. A obra fala sobre a arte de governar. Na época era comum a criação artística encomendada ou presenteada aos governantes que por muitas vezes patrocinavam as letras e as artes dos cidadãos locais ou até estrangeiros que eram contratados e enviados para a cidade. A imagem de um administrador estava intimamente ligada ao gosto pela arte, bem como o patrocínio dado aos eventos artísticos da cidade. Sem dúvida não há como falar da Itália renascentista sem mencionar o nome dos Médici, sendo eles os maiores mecenas, que tiveram sobre suas administrações nomes como os de Bottticelli, Brunellechi, Maquiavel, Boccaccio, dentre outros grandes artistas do chamado Renascimento. Sob o patrocínio da casa dos Médici estes artistas produziram grandes obras imortalizadas pelo tempo, estando elas ligadas não somente aos seus autores, mas ao ambiente cultural proporcionado pelos administradores nas cidades.
Em um livro recente, A Fabricação do Rei, que aborda a propaganda na época do reinado de Luís XIV, o intitulado Rei Sol da França seiscentista, o autor, Peter Burke, de forma muito interessante desvenda os mecanismos de construção e recepção da imagem pública do rei, baseado num sistema de promoção de artistas que transformaram a cidade de Paris, construíram Versalhes, e deixaram um grande número de obras, dentre pinturas, esculturas, arquiteturas, literaturas, peças teatrais, músicas, etc. O próprio monarca lançou moda, o sapato de salto alto, que recebeu o seu nome, e provavelmente, a do uso da peruca. Por isso é também possível dizer que a França do século XVII está relacionada à administração de Luís XIV, pois a sua imagem está marcada sob vários aspectos, quer seja econômico,