Constituiçao da identidade masculina
A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE MASCULINA:ALGUNS PONTOS PARA DISCUSSÃO Maria Juracy Toneli Siqueira1
Departamento de Psicologia
Universidade Federal de Santa Catarina
Através da apresentação de alguns dados de um estudo de caso de uma família de classe subalterna urbana e suas famílias de origem, este artigo pretende discutir os elementos que contribuem para a constituição da identidade de gênero, em especial a masculina. Esta família foi escolhida por apresentar, ao menos temporariamente, uma inversão na divisão sexual do trabalho: o marido, desempregado, ocupava-se da lida doméstica e do cuidado dos filhos, enquanto a esposa, através de seu trabalho extra-doméstico, era responsável pela manutenção do grupo. A abordagem sócio-histórica nos ajuda a compreender a constituição do sujeito nas e pelas relações sociais. De uma maneira análoga, utilizamos esta abordagem para discutir a constituição da masculinidade e da feminilidade.
Descritores: Masculinidade. Identidade de gênero. Divisão de trabalho. Trabalho doméstico. Família.
A matriz de pensamento que norteia este trabalho, no campo da Psicologia ou, como preferem alguns, no vasto campo das Psicologias, é comumente designada sócio-histórica. Sua origem encontra-se no paradigma oriundo do materialismo histórico e seu método é o dialético. Especificamente falando da perspectiva do desenvolvimento humano, ancora-se nos pensadores russos, em especial Vygotsky, e, também, na França, em Wallon. Parto, portanto, de uma abordagem que, ao discutir a natureza do psiquismo humano, relaciona a afetividade, a linguagem e a cognição com as práticas sociais, uma vez que percebe o homem como inalienavelmente social, ou seja, tudo aquilo que o torna homem pertence à ordem do social, ao mundo da cultura, ao universo simbólico historicamente construído. A consciência é cunhada na vida social, uma vez que as formas culturais de organização da vida e dos sujeitos humanos fornecem aos indivíduos os