considerações sobre o manifesto comunista
A burguesia – classe dominante porque se apropria da maior parcela da produção social – “é ela mesma o produto de um longo processo, moldado por uma série de transformações nas formas de produção e circulação”.
Essa oração sintetiza a primeira parte do manifesto, em que Marx discute sobretudo o processo histórico de formação da burguesia e consequentemente do proletariado que nascem das transformações das relações de produção e se desdobram, dialética e contraditoriamente, na política, na moral, no direito, etc. Há notadamente o cuidado em não fazer afirmações absolutas, ou criar verdade eternas. Essa não apenas é uma postura ideológica, mas uma concepção de mundo, como essa passagem deixa transparecer. O reconhecimento das múltiplas dimensões que compõem a realidade, não limitadas, mas baseadas nas necessidades elementares e naturais que sempre existiram para os seres humanos são hoje quase que dados de natureza. A clareza da longa duração e a compreensão da história enquanto processo, ambas ideias latentes no pensamento de Marx e Engels, aparecem como a novidade do contra-ataque do idealismo, em sua roupagem pós-moderna.
Em linhas rápidas, os autores discutem as mudanças nas relações de produção feudal, da qual nasce uma nova classe. A expansão do comércio promovida pelas grandes navegações criou o mercado mundial, que por sua vez, estimulou a expansão da indústria, a fim de suprir a crescente demanda. Essas mudanças estabelecem uma forma correspondente de política, qual seja, a criação do Estado como representação dos interesses gerais que até hoje funciona como instrumento da reprodução do capital.
A necessidade de criar um mercado mundial, de continuamente revolucionar as relações de produção, destrói a indústria nacional e coloca em seu lugar uma indústria cosmopolita, que utiliza matérias-primas estrangeiras e que produz para abastecer todo o planeta. Desse modo, cria a interdependência