Conjuntura Brasileira
Nossos desafios no contexto mundial contemporâneo
Marcílio Marques Moreira*
Ao procurar compreender o contexto global em que atualmente se insere a economia brasileira, uma primeira impressão me assalta – um sentimento que se inscreve entre a ambigüidade e a perplexidade. Esse sentimento desconcertante se explica na medida em que a economia moderna, tanto em sua dimensão global quanto doméstica, embute uma enorme complexidade, promissoras oportunidades e uma assustadora incerteza.
E
ntre as principais características da nova economia mundial, três podem ser destacadas: a globalização; o fato de hoje vivermos em uma sociedade do conhecimento; e a tessitura em rede das atividades globais (network society), sejam elas econômicas, culturais ou mesmo criminais.
E qual a manifestação mais eloqüente dessa nova realidade? A dos novos atores que passaram a exercer um papel crucial na economia global: a China, a Índia e uma plêiade de países médios e pequenos da periferia, sobretudo (mas não exclusivamente) asiáticos.
De muitos modos, os últimos quatro anos e meio foram inéditos. Eles testemunharam um crescimento mundial, contínuo e sincronizado, de
5% ao ano. Como conseqüência,
20
JULHO DE 2007
ocorreu a inversão de muitos paradigmas que haviam dominado os primeiros 50 anos de minha vida profissional, como a deterioração secular dos termos de intercâmbio, em detrimento dos países exportadores de commodities, já que seus preços tendiam a perder valor em relação aos dos produtos industrializados. Hoje, os preços das matérias-primas estão em alta, enquanto os dos produtos industrializados experimentam uma queda significativa. Os preços mais baixos das importações industriais da China, por exemplo, têm ajudado a inibir a inflação nos EUA e até no Brasil.
Por sua vez, o fluxo de capitais inverteu sua direção. Antes, os capitais costumavam fluir do centro para a periferia. Hoje, há um excesso de