conhecimento
Introdução ao pensamento complexo
Tradução de Eliane Lisboa
1.
A inteligência cega
O problema da organização do conhecimento
Qualquer conhecimento opera por seleção de dados significativos e rejeição de dados não significativos: separa (distingue ou disjunta) e une (associa, identifica); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em função de um núcleo de noções-chaves); estas operações, que se utilizam da lógica, são de fato comandadas por princípios “supralógicos” de organização do pensamento ou paradigmas, princípios ocultos que governam nossa visão das coisas e do mundo sem que tenhamos consciência disso. Assim, no momento incerto da passagem da visão geocêntrica (ptolomaica) à visão heliocêntrica (copérnica) do mundo, a primeira oposição entre as duas visões residia no princípio de seleção/rejeição dos dados: os geocêntricos rejeitavam como não significativos os dados inexplicáveis segundo sua concepção, enquanto que os outros se baseavam nestes dados para conceber o sistema heliocêntrico. O novo sistema engloba os mesmos constituintes do antigo (os planetas), utiliza com freqüência os antigos cálculos. Mas a visão do mundo mudou totalmente. A simples permutação entre Terra e Sol foi muito mais do que uma permutação já que foi uma mudança do centro (a Terra) em elemento periférico e de um elemento periférico (o Sol) em centro.
Tomemos agora um exemplo no coração mesmo dos problemas antropossociais de nosso século: o do sistema concentrador (Gulag), na União Soviética. Mesmo reconhecido, de facto, o Gulag pôde ser empurrado à periferia do socialismo soviético, como fenômeno negativo secundário e temporário, em razão essencialmente do cerco capitalista e das dificuldades iniciais da construção do socialismo. Ao contrário, pode-se considerar o Gulag como o núcleo central do sistema, revelador de sua essência totalitária. Vê-se, pois, que, conforme as operações de centralismo, de hierarquização, de disjunção ou de