Conhecimento e literacia - uma breve abordagem
1.Introdução
A minha reflexão crítica, assenta em duas perspectivas fundamentais: a primeira, de âmbito psicanalítico, a partir de um estudo de João dos Santos sobre a natureza do conhecimento humano, isto é, compreender as condições psíquicas que conduzem ao conhecimento humano, e a outra de cariz sociológico assente no emergente conceito de literacia que permite perceber as condicionantes sociais que contribuem para o conhecimento humano-social, ligando-o ao conceito de exclusão social, isto é, perceber o conhecimento como resultado de competências e aprendizagens que são definidas como as mais importantes em cada sociedade e de obstáculos que se opõem a esse conhecimento.
2.1. O conhecimento humano
O desejo de conhecer parece implicar uma ameaça de morte. A sobrevivência interna é literalmente posta em causa nesse dilema, nesse conflito, e a maneira como se sai dele pode abrir as portas do pensamento e da imaginação, ou pode fechá-las. Mas esse conflito dura toda a vida. É como se a criança que vive dentro de nós desde sempre vacilasse ainda, vacilasse sempre, mesmo só por um instante, em face do desejo de conhecer. É como se de cada vez que esse desejo de novo se manifestasse, surgisse ainda o eco de uma ameaça antiga, de uma ameaça de expulsão, de uma hostilidade não inteiramente resolvida. É como se temesse os passos do pai…
Mas não é essa, em parte, a génese da hostilidade? E a forma como reagimos a ela não decide muito acerca da saúde mental de cada um de nós? É que ter saúde mental não tem nada a ver com o não estar doente. Ter saúde mental é ter o direito, o acesso à fantasia, é não ter medo de pensar e de sonhar, é não ter medo de estar em contacto com nós próprios. No fundo, é não ter medo dos deuses, não ter medo da pulsão de conhecer. Freud considerou esta pulsão tão importante como a pulsão sexual ou a pulsão agressiva. Este nosso desejo de saber corresponde de certa forma a qualquer