conhecimento cientifico e senso comun
- I -
Max Weber, em seu texto sobre a ciência como vocação pede que nos lembremos do livro VII da República de Platão no qual este escreve: “aqueles homens da caverna, acorrentados, cujas faces estão voltadas para uma parede de pedra à sua frente. Atrás deles está uma fonte de luz que não podem ver. Ocupam-se apenas das imagens em sombras que essa luz lança sobre a parede e buscam estabelecer-lhes inter-relações. Finalmente, um deles consegue libertar-se dos grilhões, volta-se, vê o sol. Cego, tateia e gagueja uma descrição do que viu. Os outros dizem que ele delira. Gradualmente, porém, ele aprende a ver a luz, e então sua tarefa é descer até os homens da caverna e levá-los para a luz. Ele é o filósofo; o sol, porém, é a verdade da ciência, a única que reflete não ilusões e sombras, mas o verdadeiro ser”[2].
Estas palavras de Platão descrevem bem - a nosso ver - o espírito que, desde meados do século XIX, predomina no pensamento ocidental no qual a ciência adquiriu total hegemonia e passou a ser socialmente reconhecida pelas virtualidades instrumentais da sua racionalidade, ou seja, pelo desenvolvimento tecnológico que tornou possível e pelas possibilidades que criou para uma melhor compreensão da dinâmica e dos fenômenos sociais. O texto de Platão distingue os homens e a qualidade de suas compreensões do mundo. Os homens da caverna representam o homem comum e seu “conhecimento” é considerado como produto das inter-relações que este estabelece com um mundo que não conhece verdadeiramente e do qual - por isso mesmo - se serve apenas de impressões que não lhe permite adquirir senão uma idéia equivocada do que ele realmente significa. O filósofo, por outro lado, representa o cientista ou o homem que se serve do conhecimento científico. Este é considerado como o detentor da verdade da ciência que por sua vez é considerada - no texto - como a única válida. Se, por um lado, Platão procura demonstrar que o conhecimento