Condôminos (peça teatral)
(observando pela brecha da porta, o representante do 301 bate a porta)
Milanês: (salta da mesa e vai atender a porta) Vamos entrar, vamos entrar. Estávamos à espera do senhor para começarmos a reunião! O senhor não é o 301?
301: Não, eu não sou o 301. Meu amigo, que morava no 301, tivera que fazer repentinamente uma viagem, pedira- me que o representasse.
Milanês: (sorrindo, estende a mão) Pois então muito prazer. Milanês.
Conduz o 301 ao interior do apartamento onde várias pessoas, umas onze ou doze, já estavam reunidas ao redor da mesa. Todos levantaram a cabeça, como galinhas junto ao bebedouro. O apartamento era luxuosamente mobiliado, atapetado, aveludado, florido e enfeitado, nesta exuberância de mau gosto a que se convencionou chamar de decoração.
Milanês: Aqui é o Dr. Matoso, do 302. Quando precisar de um médico… Ali o capitão Barata, do 304 – representante das gloriosas Forças Armadas. Dona Georgina e Dona Mirtes, irmãs, não se sabe qual mais gentil, moram no 102. Aquele é o Dr. Lupiscino, do 201, nosso futuro Síndico…
Suas palavras eram recebidas com risadinhas chochas, a indicar que vinha repetindo as mesmas graças a cada um que chegava. O 301 cumprimenta o médico, um sujeito com cara mesmo de Matoso, o capitão com seu bigodinho ainda de tenente, as duas velhas de preto, não se sabia qual mais feia, o futuro síndico, os demais. O dono da casa recolheu a barriga e as idéias sentando- se empertigado à cabeceira. Ele vai ao único lugar vago do outro lado, acomodando-se.
301: Desculpem a interrupção. (gagueja) Podem continuar.
Milanês: (simpático) Não havíamos começado ainda. Estávamos apenas trocando ideias.
Milanesa: Se o senhor quiser, recomeçamos tudo. Ali nosso Jorge, do 203, dizia que precisávamos…
Jorge: Perdão, quem dizia era o Dr. Lupiscino.
Milanês: Pode prosseguir a leitura.
Alguém ao lado do 301: O Dr. Lupiscino fez um esboço de regulamento. O senhor sabe, um regulamento sempre é necessário…
Dr. Lupiscino: