CONCEITO DE ANGÚSTIA
Segundo Kierkegaard, a inocência é uma qualidade, é um estado que pode perdurar por toda nossa vida e só a perdemos quando pecamos, “do mesmo modo que Adão, é por meio da culpa que cada um de nós perde a inocência”. É válido levar em conta que a inocência em nossa vida não é nem uma perfeição nem uma imperfeição, é o que nos diz Kierkegaard:
A inocência não é uma perfeição a cuja volta deva aspirar-se, porque desejá-la é tê-la perdido e perder tempo com aspirações é pecar outra vez. Igualmente, não é imperfeição que seja necessário vencer superando-a, porquanto é bastante a si mesma, e quando a perdemos (do único modo pelo qual isso é possível, isto é, por meio da culpa e não como, quiçá, gostaríamos de a ter perdido) seria tanta a ousadia que fossemos cantar hosanas em honras de nossa própria perfeição, à custa da inocência?
A inocência é um estado de ignorância, afirma Kierkegaard. Em tal estado, em que o homem é inocente, há uma calma, um descanso, em que ele se encontra despreocupado, sem sentimento de culpa algum. Porém, nesse estado, existe ao mesmo tempo outra coisa que Kierkegaard diz que não é nem perturbação e nem luta, porque não existe nada contra que luta. Essa coisa, segundo Kierkegaard, é:
Nada. Que efeito produz, porém, este nada? Esse nada dá nascimento à angustia. Aí está o mistério profundo da vida: é, ao mesmo tempo, angústia. Sonhador, o espírito projeta a sua própria realidade, que é um átimo, e a inocência vê sempre e sempre, diante de si, esse nada.
É a partir desse nada, que tem raízes na inocência, que surge a angústia. Mas a angústia, formada na inocência, não pode ser encarada como culpa, como fardo e nem tampouco como um sofrimento contraposto à beatitude da inocência. A angústia, diz Kierkegaard, está desenhada,