Comunidades carentes, criminalidade e educação
João Ibaixe Jr. - 10/07/2009 - 00h05 Tornou-se comum ouvir que moradores de comunidades carentes são coniventes com a criminalidade local. A idéia mais comum para dar solução ao problema seria apresentada pela educação. Este modo de ver as coisas é bastante limitado em seus horizontes, pois quanto aos moradores, não se trata de somente de um dilema, ficar entre a conivência e o medo. E, quanto à educação, necessário se faz perguntar qual modelo educativo seria adequado.
Em primeiro lugar, é sabido que em nosso país o próprio sistema educacional se encontra enfrentando grave crise operacional, conjuntural e estrutural. Como levá-lo então a um ambiente problemático como o das favelas?
Além disto, sabe-se por meio da análise de alguns autores que a própria educação pode funcionar como mecanismo de reprodução de condutas a permitir a manutenção de sistemas de dominação, afinal, reitera modelos de formação que simplesmente amoldam os jovens à aceitação do padrão dominante, seja ele qual for, principalmente num mundo que vivencia um estágio globalizado.
A educação, espécie do gênero formação, deveria funcionar como um percurso do indivíduo ao autoconhecimento. Tendo em vista que o ser humano é gregário, vivendo numa comunidade de linguagem, este autoconhecimento exige sempre a presença do outro como referencial de construção de si mesmo. É sempre numa dada comunidade, mediante práticas lingüísticas que ocorre a formação humana. Eis a importância dos mestres, que funcionam como guias de orientação aos formandos, ensinando não conteúdos a serem decorados, mas fornecendo meios e permitindo o desenvolvimento de recursos para que os jovens possam refletir sobre si e sobre a comunidade que integram.
Assim, a formação, mesmo visando o bem do formando, mesmo imbuída de objetivos altaneiros, acaba por caracterizar-se como violência simbólica, pois retira do ser humano sua condição de simples vivente e o transforma em ser