Comportamento humano
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Fora a Morte, de novo, e sim, de corvo, o anjo deste epitáfio, epílogo e prefácio, sempre torvo...
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A Morte conscientizara-se habilmente: apenas um lugar sem vida alguma lhe traria paz para compor certos silêncio e reflexão. Escolhera, portanto, um deserto tão antigo quanto o universo; de areias cinzentas, apenas, e sem sóis juvenis de inconveniente vaidade, apenas uma solene e serena luz alaranjada de velas tímidas pairando entre o éter imaterial de um céu superior e infinito, sem estrelas. Silêncio. Apenas um leve e lento vento de conforto. Nada mais... Seria de se esperar, de um anjo solitário, a altiva e impetuosa construção de um castelo ou fortaleza, ostensórios de tamanha fortuna de existência. A Morte, não obstante, servir-se-ia apenas de um casal de humildes cadeiras de balanço, de antigas vigas e vidas de madeiras já, havia muito, extintas, e, de mesma matéria bruta, uma pequena mesa de centro onde repousar literatura e, talvez, certo cálice de vinho. A Morte não ordenara ninguém a erguer muros ou portões, e ninguém o fez.
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Recostada ao balanço lento daquela sua leve brisa, a Morte recordara-se, certa vez, dos equívocos de seu imortalíssimo gêmeo, o Sono, o qual - alegaram certos poetas - decidira a construção de portões para o fantástico e misterioso reino do Sonho, seu incógnito parente de tantos segredos e mistérios. Decidira, então, o Sono, repentinamente e pela inspiração das horas monótonas,