Como não fazer uma entrevista
A elaboração, a investigação ou a edição de uma notícia de forma dirigida, parcial ou preconcebida, para atender a determinados objetivos e interesses de repórteres e jornais, é algo já bastante estudado e debatido. Há mesmo quem afirme que, entre os grandes veículos, antes que uma falha individual de conduta ética por parte do repórter, isso é uma prática não só normal, mas imprescindível para o funcionamento de redações e editorias. Quem é da área sabe do que estou falando. É a velha e eficiente manipulação, o que os próprios profissionais da imprensa chamam de "plantar notícias", ou seja, determinadas informações não necessariamente verdadeiras, propositadamente publicadas para serem desmentidas depois ou, pelo menos, comentadas, quando o estrago já foi feito. A notícia "plantada" não segue a tramitação normal de apuração. É forjada na própria redação do órgão de imprensa, para provocar questionamentos que propiciem novas informações jornalísticas importantes. Uma espécie de catalisador noticioso.
A despeito da questão ética que uma coisa dessas implica ou da discussão sobre a influência do "quarto poder" na vida política e coisas do gênero (assuntos já analisados à exaustão), o que merece uma reflexão agora é quando, curiosa e comicamente, isso tudo é feito de uma forma desastrada e incompetente, como foi o caso da "entrevista" assinada pela jornalista da Folha Eliane Cantanhêde com o presidente em exercício do Senado, Edison Lobão (PFL- MA), no dia 22 de julho. Entrevista pobre, mal planejada, mal realizada, tendenciosa e que não soube aproveitar a importância, a disponibilidade, a boa vontade e a inteligência do entrevistado. Uma coisa é ser perigosamente mal-intencionado, outra, mais grave ainda, é ser um mal-intencionado incompetente.
A trapalhada, assassinando os conselhos da maioria dos principais manuais de redação e estilo e os cânones da boa imprensa, já se revelava no título capcioso e leviano da matéria, onde