COMENTÁRIOS SOBRE A CARTA DO NOVO URBANISMO
COMENTÁRIOS SOBRE A CARTA DO NOVO URBANISMO
Euclides Oliveira
No ano passado a Carta do Novo Urbanismo (Charter of the New Urbanism, CNU), documento básico do movimento de origem norte-americana denominado Congress for the New Urbanism, completou dez anos de sua promulgação, razão pela qual acho oportuno tecer aqui alguns comentários sobre ela, que com tanta freqüência tem sido comparada com a Carta de Atenas dos CIAM (Congrès Internationaux d’Architecture Moderne), como símbolo da negação dos princípios modernistas contidos nesta última. Tal comparação faz algum sentido, porém, o que acho equivocado, é considerá-la como um retorno ao modelo urbano norte-americano tradicional (baseado na grelha cartesiana) quando a nova tipologia imaginada corresponde mais a uma mistura do conceito de Cidade-Jardim de Ebenezer Howard com o modelo da cidade européia medieval, compacta, multi-social e estreitamente ligada à natureza e ao campo.
A arquiteta Clara Irazábal, em artigo na revista “Arquitextos” do Portal Vitruvius de dezembro de 2001 (3), coloca a CNU de 1996 como oposição teórica tipicamente americana e pioneira à Carta de Atenas, mas esta oposição já existia na Europa, dentro dos próprios CIAMs, pelo menos desde o final da II Guerra Mundial. Relembrando, os CIAMs nasceram na esteira do movimento moderno, um pouco como reação ao academicismo que cercou o Concurso da Liga das Nações, em 1927. Estes congressos foram liderados principalmente por Le Corbusier e deveriam funcionar como fóruns para a discussão de problemas arquitetônicos e urbanísticos em geral, mas na verdade acabaram servindo como plataforma para as idéias de Lê Corbusier e sua Ville Radieuse; sob sua influência, durante o IV Congresso em Atenas (1933), uma “Carta” de princípios sobre planejamento urbano (a Carta de Atenas) foi redigida, infelizmente de caráter apolítico, sem menção aos regimes fascistas e nazista que surgiam na época e que tinham,