Comentarios Metamorfose De Franz Kafka
Algumas reflexões
Texto-base: “O parasita da família” (sobre A Metamorfose, de Kafka), de Modesto Carone. In: Revista da Psicologia da USP, v.3 n.1-2. São Paulo, 1992. Disponível em www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/34465. A metamorfose foi escrita em 1912, mas só foi publicada em novembro de 1915.
Foi um dos poucos textos que Kafka publicou em vida e talvez isso tenha contribuído para que a estranha história do homem metamorfoseado em inseto se transformasse numa das principais marcas registradas da ficção kafkiana.
Esse fascínio se deve antes ao efeito de choque que desde a primeira frase a novela provoca na mente do leitor.
Por meio de uma prosa límpida, oriunda da linguagem de protocolo, simples, Kafka narrou o insólito, como a terrível metamorfose sofrida por Gregor Samsa. “Esta é uma característica definitiva em sua obra: a colisão entre a clareza absoluta da linguagem e o assunto opaco.”
O espanto do leitor, aliás, é confirmado pelo número crescente de análises e interpretações de A Metamorfose.
De uma maneira geral essas interpretações esbarram na dificuldade material de explicar a circunstância embaraçosa — e, no entanto, decisiva — da transformação do personagem em inseto.
A metamorfose de Gregor Samsa, que é o acontecimento determinante da história, não admite, do modo peculiar como ela se impõe à leitura, ser captada linearmente, seja como uma alegoria acessível a todos, seja como uma alegoria particular de Kafka, seja como um símbolo veiculado pela tradição.
As causas da metamorfose em inseto são um enigma não só para quem lê, como também para o próprio personagem.
No segundo parágrafo, depois de ter feito uma rápida inspeção na parte visível do seu corpo — onde sobressaem as saliências do ventre marrom e a fragilidade das inúmeras perninhas que se mexem — Gregor Samsa pergunta: "O que aconteceu comigo?". E o narrador acrescenta de uma forma suficientemente categórica para não alimentar falsas