Com Quantas L Nguas Se Faz Um
[Beto Vianna]
O que nos leva a defender a língua portuguesa na economia linguística mundial? Já nos ensinou Walter Rodney, em Como a Europa subdesenvolveu a África, que difundir a própria língua foi prática usual do neocolonialismo europeu. Quando o centro de difusão do português passa a ser o Brasil, uma ex-colônia, a promoção ultramarina da língua acaba assumindo um caráter contraditório. Antes de debater as práticas – oficiais ou não – de difusão da língua nacional, a questão que devia ser colocada é: e afinal, que língua do Brasil é essa?
Ou, mais precisamente, a quantas anda a política linguística brasileira dentro das fronteiras do país? Uma das dificuldades para que essa questão se coloque é a ideia disseminada de que o Brasil é um país monolíngue, tanto em termos da língua utilizada (o português) quanto em seu uso “correto”, ou seja, a manipulação de um sistema linguístico estático, previamente codificado (o português padrão). Trata-se de um imaginário poderoso a respeito do que seja “língua”, arraigado em diversos setores da sociedade, inclusive na grande imprensa e nos centros decisores. A essa dificuldade, soma-se outro lado perverso da moeda: muitos linguistas, em pé de guerra contra os abusos normativos da gramática tradicional, agarram-se a uma abordagem descritivista da variação linguística, ajudando a aprofundar o poço entre a noção acadêmica da língua dinâmica e o valor sociocultural (caro ao restante da sociedade) da língua única, idealmente imaculável, mas lamentavelmente maculada por seus falantes displicentes.
Os antropólogos “sempre estiveram, desde os seus primeiros passos, envolvidos direta ou indiretamente com os grupos que estudaram”, no dizer de Soraya Fleischer, e, assim, “…seus dados de pesquisa repercutiram na formulação e avaliação de políticas públicas e projetos de intervenção”. É verdade que parte da linguística brasileira, notadamente aquela tocada por pesquisadores em línguas indígenas,