Classe trabalhadora
Trabalhadores: classe ou fragmentos?
por João Bernardo
Lê-se e ouve-se com muita frequência que a classe trabalhadora já não existe. Parece ser esta a doutrina corrente. Há mesmo quem afirme que os próprios trabalhadores não têm mais razões para existir, porque o colossal surto de produtividade suscitado pela tecnologia electrónica os teria tornado definitivamente dispensáveis. O trabalho hoje, como tudo o resto, seria virtual. Mas os mercadores de novidades, talvez felizmente para eles, têm a memória curta e não sabem que estão a apresentar como último grito certas teses que a história deixara de lado. Muito antes da era da informática, nos Estados Unidos da década de 1920, um profeta da tecnocracia, Howard Scott, defendera já que o crescimento inexorável da produtividade ultrapassaria muito as oportunidades de emprego e de investimento e provocaria o desemprego crescente. A mesma tese voltou a aparecer num livro de Arthur Dahlberg publicado em 1932, Jobs, Machines and Capitalism, onde se sustentava que o progresso técnico criaria um excedente permanente de mão-de-obra. E em Novembro de 1936 Harry L. Hopkins, um dos principais obreiros do New Deal, escreveu ao presidente Franklin Delano Roosevelt prevenindo-o de que a melhoria contínua da produção, acompanhada pelo crescimento contínuo da força de trabalho, implicavam «a perspectiva de um problema permanente de desemprego e de pobreza de grandes dimensões». O argumento de que o progresso da produtividade condena os trabalhadores à extinção foi, portanto, formulado em plena vigência do fordismo, quando a economia assentava naquelas máquinas industriais que a electrónica e a informática viriam a tornar obsoletas. Vemos, assim, em primeiro lugar, que é falaciosa a base empírica dessa tese, quando aqueles que a defendem hoje invocam a diferença entre a electrónica e a indústria fordista. E, em segundo lugar, vemos que é