classe gramatical
RESUMO: O presente trabalho, de natureza teórica, objetiva argumentar a favor de uma análise semântica do fenômeno das classes gramaticais. Partindo-se da intuição, capturada pela tradição gramatical, de que o critério semântico é o principal definidor das classes gramaticais, procura-se mostrar que, embora a delimitação das classes unicamente pela semântica seja de fato comprometida, é possível compreender as classes gramaticais como categorias semânticas. Para isso, é invocado o quadro teórico da Gramática Cognitiva. Também a mudança de classe gramatical é analisada segundo essa perspectiva.
PALAVRAS-CHAVE: classe gramatical; semântica; Gramática Cognitiva.
1. Introdução: critérios para a delimitação das classes gramaticais
É consenso, nos estudos gramaticais, que as unidades lexicais se distribuem em determinadas classes, segundo certos critérios. Tais classes foram descritas já nos primeiros estudos gramaticais, na Antigüidade greco-romana, e desde então, jamais deixaram de ser tratadas nas gramáticas, embora com variações, de língua para língua, e à medida que evoluíam as descrições.
Um dos maiores questionamentos a respeito da descrição dessas classes1 se refere aos critérios utilizados para delimitá-las. Observem-se algumas definições, extraídas de Cunha e
Cintra (1985), uma gramática considerada “tradicional”:
SUBSTANTIVO é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral (p. 171)
O ADJETIVO é essencialmente um modificador do substantivo (p. 238)
VERBO é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo (p. 367)
Como se pode notar, essas definições seguem critérios semânticos (“nomeamos os seres”,
“exprime o que se passa”), sintático-semânticos (“modificador do substantivo”) e morfológicos
(“palavra de forma variável”). Por isso, afirma Mattoso Câmara Jr. que “[a] crítica séria, que se lhe pode fazer, é ser heterogênea em seus critérios e