Ciências Sociais e Religião: A Religião como Ruptura
A Umbanda na Cabeça
A umbanda sofreu nas décadas finais do século XX. O decaimento numérico da umbanda foi de tal modo significativo entre 1980 e 2000, que o desempenho demográfico das religiões afro-brasileiras no agregado ficou seriamente atingido por ele. Em 1980, o contingente de afro-brasileiros declarados ao censo, que, já diminuto, chegava a apenas 0,6% da população brasileira residente, caiu em 1991 para 0,4% e continuou caindo em 2000, chegando então a 0,3%. "De 1980 a 1991, feitas as contas na ponta do lápis, os afro-brasileiros perderam 30 mil seguidores declarados, perda que na década seguinte subiu para 71 mil." Conclusão do especialista no assunto: "o segmento das religiões afro-brasileiras está em declínio". É que nem diz o mineiro, acrescento eu: "antigamente as coisas eram piores, mas foram piorando".
O crescimento das conversões às igrejas pentecostais e neopentecostais de raiz protestante está aí para mostrar que hoje no Brasil (e de alto a baixo na América Latina) vivenciar uma religião implica muitas vezes, para um número crescente de pessoas, romper com o próprio passado religioso. Nessas rupturas proliferantes com mundos religiosos que antes pareciam bastar, mas de repente não mais, os adeuses são muitos. Entre eles, o adeus ao sincretismo umbandista que se supunha aderido com homóloga perfeição à identidade cultural brasileira.
A partir 1973 teve a ausência óbvia das denominações pentecostais surgidas posteriormente, principalmente das neopentecostais (a Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça Divina, etc.), o que chama a atenção é a localização de umbanda e candomblé em separado. Na lista de 1973 a umbanda entra no rol das "religiões de caráter universal", ao passo que o candomblé e o xangô figuram na coluna das de "preservação do patrimônio étnico-cultural". Interessante: quando aplicado às afro-brasileiras em 1973, o esquema funcional teve o efeito de separar