Ciência e epistemologia
Maria Célia Marcondes de Moraes é professora do Centro da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os conhecimentos produzidos e acumulados pelas várias ciências e a tecnologia deles decorrentes desempenham um papel dominante nas sociedades contemporâneas. Kurt Hübner chega a comparar essa posição com aquela ocupada pela teologia em épocas passadas. Assim como a teologia impregnava toda a vida medieval e tudo deveria ser interpretado, concebido, e legitimado por ela, a ciência hoje é revestida de certa “sacralidade” e considerada em tudo competente. É na época do Iluminismo que podemos encontrar as raízes desse clima um tanto “eufórico”. A ciência não chega sempre a descobrir a verdade, pelo menos dela se aproxima cada vez mais exata, mais ampla. Mas recentemente, entretanto, essa euforia foi cedendo lugar a uma crescente preocupação; por um lado, os extraordinários avanços na microeletrônica, um dos mais recentes campos abertos pela pesquisa científica, por outro lado, e contrariamente, a percepção de que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia talvez já esteja encontrando os seus primeiros limites. Seja porque os recursos naturais não são inesgotáveis, ou porque algumas sociedades começam a impor restrições à contínua expansão dos complexos científicos e tecnológicos. Pois bem, um fenômeno tão fundamentalmente importante quanto esse da ciência não poderia deixar de despertar um interesse dentro e fora da atividade propriamente científica. E mesmo o de provocar o surgimento da epistemologia. O ESTATUTO DA EPISTEMOLOGIA Como nos diz Blanchet, a palavra epistemologia é de criação recente, por volta de 1906. Entretanto, o tipo de reflexão dessa disciplina já é