Ciência Ideologia e Economia
Um deles é a divisão “das ciências” em naturais e humanas, como se o objectivo não fosse sempre o de perceber o que se passa. Ciência só há uma. É o processo de gerar, testar, seleccionar e melhorar descrições da realidade pela sua correspondência ao que pretendem descrever. Descrever coisas que não são realidade não é ciência. Deuses, demónios ou o Homem Aranha, por exemplo. Também não é ciência alegar que se descreve a realidade sem aferir se a descrição corresponde ao descrito. É o caso de Lysenko, dos criacionistas e de quem diz saber como são os deuses ou demónios. Mas tentar perceber como as coisas são, tendo o cuidado de testar se são mesmo como julgamos, é ciência, seja com telescópios, medidores de pH ou preços e taxas de juro.
Roubando dois exemplos à Priscila, a lei dos gases perfeitos diz que o produto da pressão pelo volume de um gás é proporcional ao produto da temperatura pelo número de moléculas; e a função de consumo de Keynes diz que o consumo total é igual ao consumo autónomo mais o produto do rendimento pela propensão marginal de consumo. Estas afirmações são ambas científicas. É certo que Keynes assume que os consumidores ignoram expectativas de rendimentos futuros, o que não se ajusta perfeitamente à realidade. Mas a lei dos gases perfeitos também assume que as moléculas de gás são partículas pontuais que não interagem, e isso também não é verdade. Ainda assim, desde que se compreenda as limitações e condições de aplicabilidade destas relações, e não se descure as margens de erro associadas, é tão científico descrever a procura de latas de feijão com a expressão de Keynes como descrever a pressão do pneu com a lei dos gases perfeitos.
Outro problema é ignorar essas condições e margens de erro. Se modelarmos o custo