Ciência Ideologia e Economia

960 palavras 4 páginas
A Priscila Rêgo chamou-me a atenção para uma discussão no Douta Ignorância sobre a objectividade (ou falta dela) da ciência e, em particular, da economia (1). A conversa toca vários problemas que costumo trazer para aqui.

Um deles é a divisão “das ciências” em naturais e humanas, como se o objectivo não fosse sempre o de perceber o que se passa. Ciência só há uma. É o processo de gerar, testar, seleccionar e melhorar descrições da realidade pela sua correspondência ao que pretendem descrever. Descrever coisas que não são realidade não é ciência. Deuses, demónios ou o Homem Aranha, por exemplo. Também não é ciência alegar que se descreve a realidade sem aferir se a descrição corresponde ao descrito. É o caso de Lysenko, dos criacionistas e de quem diz saber como são os deuses ou demónios. Mas tentar perceber como as coisas são, tendo o cuidado de testar se são mesmo como julgamos, é ciência, seja com telescópios, medidores de pH ou preços e taxas de juro.

Roubando dois exemplos à Priscila, a lei dos gases perfeitos diz que o produto da pressão pelo volume de um gás é proporcional ao produto da temperatura pelo número de moléculas; e a função de consumo de Keynes diz que o consumo total é igual ao consumo autónomo mais o produto do rendimento pela propensão marginal de consumo. Estas afirmações são ambas científicas. É certo que Keynes assume que os consumidores ignoram expectativas de rendimentos futuros, o que não se ajusta perfeitamente à realidade. Mas a lei dos gases perfeitos também assume que as moléculas de gás são partículas pontuais que não interagem, e isso também não é verdade. Ainda assim, desde que se compreenda as limitações e condições de aplicabilidade destas relações, e não se descure as margens de erro associadas, é tão científico descrever a procura de latas de feijão com a expressão de Keynes como descrever a pressão do pneu com a lei dos gases perfeitos.

Outro problema é ignorar essas condições e margens de erro. Se modelarmos o custo

Relacionados

  • ideologia
    1651 palavras | 7 páginas
  • As influencias ideologicas da economia
    1757 palavras | 8 páginas
  • Ideologia
    773 palavras | 4 páginas
  • História do pensamento econômico
    926 palavras | 4 páginas
  • Economia
    564 palavras | 3 páginas
  • Economia Politica
    1859 palavras | 8 páginas
  • Socilogia
    14245 palavras | 57 páginas
  • Estudante
    674 palavras | 3 páginas
  • Economia
    643 palavras | 3 páginas
  • Escola Clássica - Economia
    2202 palavras | 9 páginas