ciumes de um pedestre
Martins Pena
PERSONAGENS:
André João ... Pedestre
Balbina ... sua filha
Anacleta ... sua mulher
Alexandre ... amante de Balbina
Paulino ... amante de Anacleta
Roberto ... pai de Anacleta
Um cabo da Patrulha
TEXTO
PAU – Meia-noite... São horas de entrar... O pedestre saiu... Anda a estas horas a procura de negros fugidos... Que silêncio! O meu bem ainda estará acordada? A quanto me exponho por ela! Por sorte o chaveiro da esquina me ensinou a abrir portas com isso aqui! Ouço rumor...
BAL – Minha madrasta? Minha madrasta?
PAU – Mau! A filha ainda está acordada...
BAL – Dona Anacleta? Dona Anacleta?
ANA – O que queres Balbina?
PAU – É ela...
BAL – Já deu meia-noite...
ANA – E foi só pra me dizeres isso que me chamaste? Vai dormir que eu naum estou para conversar a estas horas... Adeus.
BAL – Pelo amor de Deus, espere!
ANA – Pra quê?
BAL – Estou com medo...
ANA – Ora, não sejas criança. Vai dormir.
BAL – Não posso... eu estava costurando, fui espevitar a vela e apaguei-a... fiquei no escuro... nisso deu meia-noite... os meus cabelos arrepiaram... levantei-me e ia deitar na cama, assim mesmo vestida, quando ouvi mexer a porta da frente como se uma pessoa forçasse a entrar...
PAU – Era eu, era eu!
ANA – O medo é que te fez acreditar nisso.
PAU – Mudei de nome?! Muito prazer... MEDO!
BAL – Não, não foi o medo, bem ouvi... e fiquei com tanto susto que nem ousava respirar. Afinal, criei coragem para chegar até aqui e lhe chamar.
ANA – Mas quem pode a estas horas querer entrar aqui?
PAU – Presente!
BAL – Não sei...
ANA – Foi engano seu, deve ser o vento.
BAL – Bem pode ser, mas tenho medo. Não posso ficar sozinha no escuro... Se eu pudesse ir pra lá...
ANA – Bem sabes que é impossível. Seu pai fechou a porta e levou as chaves.
BAL – Droga! Mas fique ai conversando comigo até que meu pai chegue.
ANA – Queres que fiquemos aqui até de madrugada, que é a hora que