CINEMA E WALTER BENJAMIN
PARA UMA VIVÊNCIA DA DESCONTINUIDADE
Cássio dos Santos TOMAIM1
Notada a escassez, ou quase inexistência, de trabalhos que abordem a leitura de Walter Benjamin a respeito do cinema – até onde pude averiguar – resolvi buscar elementos na própria produção teórica do autor e de tantos outros estudiosos que se debruçaram sobre sua obra para compor este artigo, que não tem a presunção de inaugurar algo, mas de refletir sobre o tema, respondendo questões intrínsecas à minha curiosidade acadêmica. Entretanto, satisfazer estas curiosidades, ao propor pensar o cinema sob a guarda das reflexões benjaminianas, torna-se um desafio, principalmente perante o vazio referencial, o que faz dos ensaios do autor, como A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica e Sobre alguns temas em
Baudelaire, reservatórios teóricos, no tocante às principais idéias desenvolvidas nesse trabalho. Assim, ao final, espero que esse escrito concretize uma iniciativa teórica capaz de elucidar parte do pensamento de Walter Benjamin sobre uma arte/técnica que, segundo ele, corresponde às experiências reservadas ao homem moderno.
Imaginemos duas ocasiões distintas no tempo e na percepção:
Século XIV. Ajoelhado, encontro-me em um momento de contemplação. Mesmo com a cabeça arriada, em um gesto de devoção, meus olhos percorrem a imensa arquitetura do Templo, é como se ela pudesse abraçar todas as almas. Em mais uma fuga, deparo com uma imagem austera que parece me ameaçar por insistir com os olhares fugazes. Diante do “ídolo” não me cabe mirar com o anseio de respostas, devo me contentar com o instante único que ele me permite: cultuar a sua presença.
Para todos aqueles que aqui estão reunidos, o culto ao “ídolo” é um momento de conforto espiritual; distante de nós, sem poder tocá-lo e perceber sua materialidade, aquilo que antes não passava de um material bruto, de madeira, barro ou metal, agora assume uma forma que merece devoção. Nesse momento