Cinema 20
Abstract O cinema tem-se ocupado de vários espaços ao longo da sua história: do espaço fílmico propriamente dito, mas também do espaço mental; do espaço real, mas também do espaço ausente. Todos estes espaços estão, de uma ou de outra forma, ligados ao imaginário e à técnica cinematográficos. Antes de mais, há de interessar-nos, então, o espaço doméstico como lugar de um tipo de imaginário específico e compreender a sua génese enquanto tal. Mas a ideia de domesticação remete igualmente para a relação do sujeito com a técnica: a entrada das tecnologias cinematográficas na esfera privada é outro dos assuntos que nos interessa aqui tratar. Por fim, verificamos que as dimensões artísticas e conceptuais do que designamos como cinema doméstico, se encontram numa permanente tensão e mutação: são zonas de limiar que não cessam de se contaminar e reconfigurar. É essa dinâmica, em muito propiciada e justificada pelo surgimento da Internet, que nos interessa também analisar.
Introdução: Antes de iniciarmos a nossa reflexão, devemos enunciar duas inquietações que nos hão de acompanhar em surdina ao longo da reflexão e que suscitam desde logo duas considerações prévias: em primeiro lugar, verificamos que o tipo de produção associada aos home-movies, ou filme doméstico, se quisermos, convive frequentemente com uma série de valores estéticos e éticos que lhe são ora oponíveis (a autoria, o profissionalismo) ora cúmplices (a confessionalidade, a biografia) ? e tal haverá de assinalar com extrema evidência a volatilidade deste conceito e da sua caracterização; em segundo lugar, e de algum modo decorrente do anteriormente dito, verificamos que a ideia de um cinema doméstico poderá assumir uma abrangência conceptual imensa, correndo-se, por isso, o risco de alguma indistinção circunstancial ? por exemplo: poderão os home movies e a Internet ser compatíveis? A estas duas inquietações procuramos (também) responder ao longo do presente estudo,