ciencias vs. pseudociências
1. Introdução: o paradoxo atual
Comenta Ignacio Ramonet em seu livro “Um mundo sem rumo: crise de fim de século” [1]
“Em sociedades presididas em princípio pela racionalidade, quando esta se dilui ou se desloca, os cidadãos se veem tentados a recorrer a formas de pensamento pré-racionalistas. Voltam-se para a superstição, o esotérico, o ilógico, e estão dispostos a crer em varinhas mágicas capazes de transformar o chumbo em ouro e os sapos em príncipes. Cada vez são mais os cidadãos que se sentem ameaçados por uma modernidade tecnológica brutal e se veem impelidos a adotar posturas receosas antimodernistas.”
É certo que enfrentamos uma situação paradoxal: por um lado podemos coletar numerosos indicadores da crescente importância (e necessidade) da ciência e suas tecnologias na sociedade atual, da cada vez maior relevância da chamada comunicação social da ciência (jornalismo, divulgação, museus ou centros de ciência, mundo educativo… que constituem as ligações atuais entre a pesquisa científica e os cidadãos); por outro, a avaliação ou apreciação social desta mesma ciência não se ajusta ao papel que ela tem na sociedade. Mas, além disso, podemos perceber um crescente irracionalismo, associado normalmente com o que neste trabalho denominaremos globalmente pseudociências (que definiremos por extensão e por exclusão no tópico seguinte).
O paradoxo consiste em que se agora mesmo removêssemos os produtos da tecnociência, a civilização humana entraria em colapso. Apesar de a desconhecermos ou subestimarmos, a ciência — atenção! também culpável de cumplicidade com os sistemas econômicos e de poder, não se creia em uma espécie de torre de marfim acima do bem e do mal —, a ciência, dizíamos, é o substrato base do nosso presente e a única via factível de futuro. O problema deriva para uma percepção da ciência como uma espécie de igreja com seus rituais e seus oficiantes: nós cidadãos chegamos, em geral, a desfrutar dos dons da ciência, mas