Cidadão e consumidor uma coexistência possível
Richard Joseph Althoff
O exemplo do movimento pelos Direitos Civis nos EUA:
"Não haverá tranqüilidade nem sossego na América enquanto o negro não tiver garantidos os seus direitos de cidadão… Enquanto não chegar o radiante dia da justiça… A luta dos negros por liberdade e igualdade de direitos ainda está longe do fim"2
Como reminiscência da forte conjuntura escravocrata nos EUA, mesmo em meados do século XX, especialmente nos estados sulistas da Carolina do Sul, Mississippi e Louisiana, permaneciam leis segregacionistas raciais escoradas no Direito Material. Assim, uma pretensa “igualdade” era assegurada entre negros e brancos, embora, de acordo com a cultura sectária local, fossem completamente desproporcionais os investimentos governamentais destinados a um ou outro grupo étnico, favorecendo intencionalmente os brancos. Incitado particularmente após o “caso Rosa Parks”3 a tomar frente como um dos ativistas líderes do movimento negro pró-direitos civis, o reverendo Martin Luther King, assim como outros de seu tempo, percebeu que para os seus semelhantes de cor conquistarem a tão sonhada isonomia efetiva em relação aos cidadãos brancos, fazia-se necessário buscá-la através de meios que operassem diretamente com a lógica do mercado capitalista. Os negros não usufruíam como cidadãos da visibilidade que potencializavam como consumidores, e tal situação estava prestes a mudar de acordo com os meios empregados para reclamar tais direitos.
As empresas não podiam dispensar o dinheiro dos afro-americanos e, diante de uma conjuntura sócio-político-cultural discriminatória respaldada em leis estatais, Martin Luther King estimulou a população negra, antes ou concomitantemente às grandes marchas, a usar sua capacidade de reivindicação através do poder de compra. Afinal, apesar das leis não os considerarem como cidadãos dignos de freqüentar os mesmos locais ou