Cidade de muros: crime, segregação e cidadania
A discussão que se encontra em Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo, de Teresa Pires Caldeira, é uma contribuição importante para a compreensão dos processos atuantes na profunda transformação em curso na sociabilidade metropolitana e para a detecção dos elementos que concorrem para o aumento assustador do crime e da violência.
O argumento central do livro é de que se assiste, contemporaneamente, a uma alteração marcante na qualidade do espaço público e no significado da noção de público que caracterizou a emergência da vida moderna. Ao mesmo tempo, a autora procura esclarecer como o incremento desmesurado das atividades criminosas, o crescente temor à violência, a ele correlato, e as transformações acentuadas por que passa a cidade nas últimas duas décadas têm ajudado a produzir um novo padrão de segregação em São Paulo.
Essa alteração apóia-se na atribuição de ameaça a alguns grupos que compõem a população, aliada à descrença e à desconfiança na capacidade de os poderes públicos garantirem a segurança dos cidadãos, o que tem levado a uma progressiva transferência dessa responsabilidade para as empresas privadas de segurança.
Além disso, o medo da violência que atinge patamares inéditos faz com que grupos sociais que se julgam possíveis alvos de atentados criminosos busquem ou tenham a ilusão de ocupar uma situação segura. Assim, afastam-se das possibilidades de encontro com aqueles que consideram diferentes e, por conta disso, perigosos.
Ideais como liberdade, igualdade, tolerância e respeito à diferença, traços distintivos da perspectiva democrática que emergiu com a cidade, são progressivamente substituídos pela fragmentação e pela separação rígida de espaços (também sociais), garantidas por uma segurança sofisticada e estruturada sobre a valorização da desigualdade. Em contrapartida, vem à tona o desrespeito à justiça e aos direitos individuais, impedindo a expansão da democracia