Cibercultura Pierre Levy
Para Além das Páginas
Ao mesmo tempo fino, delicado e bemhumorado, Beyond Pages de Masaki Fujihata deve ser considerado uma das mais belas ilustrações das "artes da interatividade" emergentes. Entrase em um lugar pequeno e fechado. Na frente há uma mesa real sobre a qual encontrase projetada a imagem de um livro. No fundo do aposento há uma projeção da imagem de uma porta fechada. Sentandose à mesa, pega se uma espécie de caneta eletrônica, com a qual é possível "tocar" a imagem do livro. A imagem do livro fechado é então substituída pela de um livro aberto.
Como se o livro tivesse sido "aberto". Que fique bem claro: não há um livro de papel de verdade para abrir, apenas uma sucessão de duas imagens controlada por um dispositivo interativo. O livro de Beyond Pages de Masaki Fujihata não é uma imagem fixa clássica, e também não é uma imagem de animação que passa imperturbavelmente, é um objeto estranho, meio signo (é uma imagem), meio coisa (é possível atuar sobre ele, transformálo, explorálo dentro de certos limites). Estamos acostumados a interagir com telas graças aos videogames, à Internet e aos CD -ROMs, mas nesse caso a imagem interativa do livro encontrase sobre uma mesa de madeira e não em uma tela de vídeo. Ao abrir esse estranho livro, vemos escrita sobre a página direita a palavra "maçã" em inglês, no alfabeto romano, e em japonês, com caracteres kanji. Até aí, nada demais: signos de escrita sobre uma página. Mas na página esquerda há a imagem de uma bela maçã vermelha em trompe l'oeil, uma maçã cuja sombra está nitidamente recortada sobre a página imaculada. Mais ou menos como se a página da direita nos mostrasse signos e a da esquerda uma coisa. A sensação de que a maçã é realmente uma coisa colocada sobre a página e não apenas uma imagem é reforçada pelo que se descobre progressivamente "folheando o livro": a maçã encontrase cortada na página seguinte, sendo progressivamente consumida à medida que a "leitura" continua, até que