Chico Bento e variações linguisticas
Desde minha infância conheço e me divirto com as historinhas da Turma da Mônica, mas nunca tive um olhar crítico sobre elas, até porque, antes, não sendo uma estudante de Letras, não sabia que poderia ser uma ótima ferramenta, com ótimos exemplos para meu estudo linguístico. O personagem Chico Bento, nessas histórias em quadrinhos produzidas por Maurício de Souza, sempre teve como característica uma linguagem simples e caipira, vinda de sua família do interior, e, hoje, com um olhar crítico e com mais conhecimento do assunto, sei que esse é um bom exemplo de um fator extralinguístico chamado origem geográfica, que por viver no interior, na área rural, Chico Bento sempre teve um modo de falar diferenciado das pessoas que vivem na cidade. Agora, em nova versão, Chico Bento decide fazer faculdade na cidade grande e consequentemente, por estar em outra realidade, começa a se policiar em falar “mais corretamente”, de uma maneira mais formal. Quando volta para o interior, onde visita seus pais, ele muda da linguagem formal, para a informal, ou para a linguagem caipira (mais precisamente), conforme falava antes. Um bom e engraçado exemplo da mudança na fala de Chico é quando ele vai tirar o leite de sua vaca, a Malhada (Maiada), e ela não “dá” o leite até que ele muda o modo de falar, começa a falar da forma caipira e a vaca enfim, se sente mais a vontade e “dá” o leite! O interessante da história é justamente isso, ele não deixa suas raízes para trás, não sente vergonha, não menospreza e muito menos se deixa levar pelas pessoas que moram na cidade grande, ele continua sendo humilde e o mesmo de sempre só que agora, com uma nova linguagem mais culta para utilizar em outros momentos mais adequados, como na cidade grande. Antes, quando morava no interior, ele falava apenas o “caipirês” e agora, morando na cidade ele fala as duas linguagens e sabe que apesar de todas as diferenças, nenhuma é melhor que a outra.
Outro