Chega um tempo

E chega um tempo em que não sabemos mais quem somos ou o que fazemos, quanto mais para onde vamos. Mas o curso tem que ser mantido, mesmo que o preço a pagar seja caro demais. Banque. E chega um tempo em que a gente enfraquece. Também pudera, quantas são as batalhas travadas todos os dias, o dia todo. E o corpo sente e o coração palpita e a mente falha. Mas a força que existe em nós, filhos deste universo, não acaba nunca. E como ela é poderosa e suavemente controlada dentro de nossos corpos. E chega um tempo em que parece que se vive por viver. Acontece. A vida não vive sozinha, ás vezes temos que dar aquela mão esperta. Mas muitas vezes nos pegamos contando as horas do dia, os dias dos meses, os meses do ano, as rugas da testa, os cabelos brancos; como quem conta espinhos cravados em nossa própria garganta. Quem dera nos livrar duma vez destes espinhos para cuidarmos melhor de nossa garganta. E chega um tempo de dizer o "não", o "nunca", o "jamais". Parece até que sai mais fácil de nossa boca do que o "sim", o "sempre", o "certamente". Não nos damos por conta que a força que exercemos é a mesma ou até maior com a negativa. A negação é, na maioria das vezes, só uma reação, não uma posição. Assim, espere mais um pouco. Pense. Quem sabe evitaremos de dizer tantos "não" aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos vizinhos, àquele que nos interrompe na fila do super-mercado, ao cineminha, ao cochilo após o almoço, ao chimarrão á tardinha, aos planos de fazer aquele jardim. É chegado o tempo de dizer mais "sim". Sim, como vais? Sim , obrigado.Sim, sou eu. Sim, eu ajudo. Sim eu faço. Sim, nós podemos. Sim, eu vivo. Sim, eu tomo cerveja no bar da esquina numa terça-feira à tarde para comemorar o amor que sinto pela minha mulher. E eu que nem gosto de cerveja. Mas ela gosta e quem sabe até a convenço de tomar um refri também. Sirva-se. Beba o próprio prazer. Sim, eu jogo bola com meu filho no sábado pela manhã. Sim, eu faço churrasco na segunda-feira à noite.