Cepal
A partir dos anos 1930, a natureza do planejamento nacional no Brasil exibe duas constantes: ser de natureza “governamental” e, com poucas exceções, ser “reativa”. Este artigo explora um enfoque que contrasta com essa tradição. Advoga que sobram razões para que hoje se busque pôr em marcha uma racionalização das políticas públicas elevada ao Estado-Nação e que ela se estenda em uma perspectiva de longo prazo. Apontada, voluntariamente, à construção de um futuro desejável.Na parte inicial, toca-se a evolução do planejamento governamental, cujos detalhes são objeto de outros textos, já em publicação por Cepal/Ipea. Destaca-se seu caráter “reativo”, especialmente até o começo dos anos 1960. Recapitulam-se certos atributos-chave do padrão atual de desenvolvimento e alguns de seus impactos nas três instâncias da vida coletiva: econômica, social e política. Argumenta-se que as inflexões que esse padrão produz na história atual afetam o cerne das tarefas dos órgãos nacionais de planejamento.A segunda e última parte prossegue com o tema da prospectiva, mas concentra-se no da estratégia. Recorda-se que esse conceito, como uma cunha, quebra a continuidade da teoria e da prática do planejamento. Resumem-se dificuldades na formulação das estratégias de desenvolvimento. Sublinha-se uma delas frequentemente omitida: a de que a estratégia adotada precisa ter legitimidade social. Conclui-se com uma pauta – parcial e não hierarquizada – de desafios atuais, merecedores de atenção para o desenvolvimento futuro. CEPAL
Planejamento, inflexões atuais e longo prazo
No Brasil, no restante da América Latina e do Caribe e em outros países de menor desenvolvimento relativo, experiências de planejamento mais sistemático iniciaram-se pelos anos 1930 na esteira de políticas públicas concebidas para enfrentar consequências da Crise de 1929.1 Na prática, elas incorporavam alguns objetivos do New Deal (1933), na teoria, inspiravam-se nas propostas inovadoras de Keynes (1936).