Cecilia Meireles
A bela bola rola: a bela bola do Raul.
Bola amarela, a da Arabela.
A do Raul, azul. Rola a amarela e pula a azul.
A bola é mole, é mole e rola.
A bola é bela, é bela e pula.
É bela, rola e pula, é mole, amarela, azul.
A de Raul é de Arabela, e a de Arabela é de Raul.
Um poema para ser lido em todas as idades: eis uma das características que demarcaram o trabalho artístico dessa nobre poetisa, Cecília Meireles. Nele percebemos a presença de rimas, sonoridade, para não falar da sinestesia. Pois bem, a segunda geração modernista não poupou esforços mediante o manejo em explorar o lado sentimental, o lado lírico das coisas mundanas, cultuando, assim, a poesia. Cecília, ao lado de Carlos Drummond, Jorge de Lima, Vinicius de Moraes, Murilo Mendes, entre muitos outros, assim se fizeram vistos.
A geração de 1930, representada pela poesia, procurou dar segmento ao que propunham os primeiros modernistas, sobretudo quanto à liberdade formal. Contudo, mesclaram ambas as formas: versos brancos e livres aliados às formas conservadoras, tradicionalistas (ligadas à métrica, sonoridade de rimas, etc.). Assim, deparamo-nos com uma Cecília que, mesmo vivendo em meio à efervescência de 1922, procurou seguir um caminho pessoal, optando não por um estilo engessado e único, mas pela habilidade que teve em mesclar a liberdade formal em consonância com o equilíbrio clássico. Daí a razão de sua marca registrada: versos de 5, 7 ou 8 sílabas poéticas, bem como os versos brancos e os de rimas toantes, em que somente as vogais das últimas palavras de cada verso rimam entre si, como podemos observar em um dos poemas dela, intitulado “As meninas”:
Arabela
Abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria olhava e sorria:
[...]
Além dos recursos estilísticos já firmados, outros elementos preponderam na poesia de Cecília. O maior deles, talvez o principal, resulta na forma como ela observa o mundo à sua volta, um mundo isento de racionalidade