catolização e poder
Ronaldo Vainfas*
Marina de Mello e Souza**
Introdução
Um dos maiores problemas da historiografia brasileira acerca da escravidão é seu relativo desconhecimento da história e cultura africanas. Desconhecimento injustificável que, no limite, implica considerar o africano apenas em função da escravidão, reificando-o, e tanto mais grave quanto é hoje a história cultural campo dos mais frequentados pela pesquisa historiográfica no Brasil.
É verdade que, talvez, nos últimos vinte anos, este quadro lacunoso tem dado sinais de mudança, bastando citar, sem a preocupação de esgotar o assunto, os trabalhos de João Reis sobre a revolta dos malês na Bahia1, o de Manolo Florentino sobre o tráfico atlântico2, ou o de Robert Slenes sobre a formação de uma “etnia proto-banto” no sudeste brasileiro oitocentista3. Há, porém, muito ainda por fazer nesta área de estudos.
A história do reino do Congo certamente tem muitas lições a dar, quer para os interessados no estudo da África, quer para os estudiosos da escravidão e da cultura negra na diáspora colonial. Afinal, a região do Congo-Angola foi daquelas que mais * Professor Titular de História Moderna da UFF com pesquisa sobre o movimento antoniano no reino do
Congo (CNPq).
** Doutoranda da UFF com pesquisa sobre Identidade étnica nas festas de coroação de Reis Congo no Brasil
(CNPq).
1 - João Reis. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês (1835). São Paulo, Brasiliense,
1986, 293 pp.
2 - Manolo G. Florentino. Em costas negras: uma história do tráfico atlântico de escravos entre a África e o
Rio de Janeiro (sécs. XVIII-XIX). Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1995, 300 pp.
3 - Robert Slenes. “Malungu, Ngoma vem: África coberta e descoberta no Brasil”. Revista USP, vol.12, São
Paulo, 1991-92, pp.48-67.forneceu africanos para o Brasil,