Casualidade mental
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Hilary Putnam
Universidade de Harvard
Peço a vossa indulgência por começar esta Conferência Petrus Hispanus com uma nota autobiográfica. Embora, lamentavelmente, eu não fale a vossa bela língua, o português era uma presença constante em casa dos meus pais. A explicação para isto é dada na introdução à
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bibliografia do meu pai, intitulada Samuel Putnam, Latin Americanist. Nesta introdução, o autor da bibliografia explica:
Algures na Europa, numa data que não pode ser determinada com precisão, Sam Putnam travou conhecimento com Fidelino de Figueiredo. Rejeitando a esterilidade da literatura do seu Portugal natal nos dias da ditadura de Salazar, Figueiredo disse a Putnam: «Porque não vai para o Brasil? Eles é que têm uma literatura interessante». Passaram muitos anos antes que Putnam fosse ao Brasil em pessoa, mas pouco depois do seu regresso aos Estados
Unidos, em 1933, dirigiu parcialmente, de facto, as suas atenções intelectuais em direcção ao sul. Assim como uma figura literária portuguesa o tinha levado até ao Brasil, também esse gigante de entre os países da América do Sul o levaria até outras partes da América Latina.
Contudo, por muito empenhada que viesse a ser a sua incursão na América de língua espanhola, o seu interesse principal continuaria a ser o Brasil. Quinze anos depois de tudo começar, Sam declararia com convicção que o Brasil era a sua segunda casa.
Não é surpreendente, portanto, que eu tenha ouvido falar português muito frequentemente enquanto o meu pai foi VIVO . E fazer uma conferência no país que deu início ao envolvimento do meu pai com essa língua é para mim, peculiarmente, um «regresso a casa». Seja-me também permitido dizer que estou grato pela oportunidade que este convite me proporciona de partilhar a investigação em que estou envolvido neste momento — investigação relacionada com debates actuais na filosofia da mente. Visto que, apesar de eu discordar dos seus pontos de vista, não