Cartas portuguesas
O romance epistolar Cartas portuguesas, de Mariana Alcoforado conta a história de uma moça que vivia em um convento desde os doze anos. Ao conhecer um oficial francês, apaixonou-se imediatamente por ele. Seduzida e abandonada, a jovem religiosa começa, então, a enviar cartas arrebatadas ao seu amor. A obra é composta de cinco cartas, nas quais se percebe uma transformação que vem ocorrendo, gradativamente, no entendimento que a moça tem da situação. Embora haja controvérsias quanto ao fato de as cartas terem, realmente, sido escritas por uma mulher ou, então, se teriam sido produzidas por um homem, vai-se considerar, para este trabalho, a primeira hipótese, já que é o único elemento que se tem: uma obra cuja autoria é atribuída a uma mulher. Na primeira carta, embora chorosa, ela demonstra que acredita no amor do oficial e tem esperanças de que ele volte. A jovem acredita que não sofre sozinha, pois pensa que a distância causa a mesma dor no oficial. Na segunda correspondência enviada pela moça, a dúvida quanto ao amor do oficial e quanto ao seu possível retorno começa a corroê-la. Todavia, ela ainda crê na possibilidade de sensibilizá-lo, de forma a fazê-lo voltar atrás na decisão de ficar afastado. Para isso, tenta algo que se aproxima de uma chantagem emocional, fazendo-lhe ver o quanto ela padece, o quanto o ama, ou seja, ela sofre, mas ainda acredita que a situação desfavorável em que se encontra pode ser revertida por meio da demonstração de dor presente em suas correspondências. A terceira carta mostra o auge da amargura e da desilusão da jovem religiosa. Esse é o momento em que ela se dá conta da realidade, percebendo que o amor que nutre pelo oficial não é correspondido. É aqui que a crise da moça atinge o topo e que se percebe mais claramente a transformação que está ocorrendo em seu modo de enxergar o romance. Observa-se, através do tom depressivo utilizado, o momento de crise expresso nas palavras da jovem, o que