Carrrascodoamor
364 palavras
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Não gosto de trabalhar com pacientes que estejam apaixonados. Talvez por inveja — eu também almejo o encantamento. Talvez porque o amor e a psicoterapia sejam fundamentalmente incompatíveis. O bom terapeuta luta contra as trevas e busca a iluminação, enquanto o amor romântico é sustentado pelo mistério e se desintegra sob um exame mais detido. Detesto ser o carrasco do amor. No entanto, Thelma, nos minutos iniciais de nossa primeira entrevista, contou-me que estava desesperadamente, tragicamente apaixonada, e eu jamais hesitei, nem por um momento, em aceitá-la para tratamento. Tudo o que eu vi no primeiro instante — o rosto enrugado de uns 70 anos de idade, com o tremor senil no queixo, o cabelo escasso, amarelo oxigenado, despenteado, as mãos emaciadas com veias azuladas — me dizia que ela deveria estar enganada, que não podia estar apaixonada. Como o amor poderia escolher assaltar aquele corpo velho, frágil e trôpego, ou alojar-se naquele casaco de poliéster informe? Além disso, onde estava a aura de êxtase amoroso? O sofrimento de Thelma não me surpreendeu, sendo o amor sempre contaminado pela dor; mas seu amor era monstruosamente desequilibrado — não continha nenhum prazer; sua vida era um completo tormento. Então concordei em tratá-la, pois tinha certeza de que ela estava sofrendo, não por amor, mas por alguma rara variante, que ela tomava equivocadamente por amor. Eu não apenas acreditava que poderia ajudar Thelma, como também me instigava a idéia de que esse pretenso amor poderia ser um farol que iluminaria alguns dos profundos mistérios desse sentimento. Thelma estava distante e tensa no nosso primeiro encontro. Não retribuiu o meu sorriso quando a cumprimentei na sala de espera, e seguiu um passo ou dois atrás de mim quando a conduzi pelo corredor. Ao entrarmos em meu consultório, ela sequer olhou ao redor e sentou-se imediatamente. Então, sem esperar por qualquer comentário meu e sem desabotoar a pesada jaqueta que usava sobre seu