carnaval enquanto recuo moral
O carnaval enquanto recuo moral e recuo produtivo
“É de fazer chorar, quando o dia amanhece e obriga a festa acabar
Óh quarta-feira ingrata, chega tão depressa. Só pra contrariar!“
Não curiosamente, esse verso da banda pernambucana Eddie, não causará estranhamento a nenhum leitor (brasileiro) desse texto. No verso, indignamo-nos contra a ingratidão simbólica da chegada “inaguardada” da quarta-feira de cinzas, sinalizando o fim do carnaval, e a volta para a vida cotidiana. Volta à labuta, à correria, às festas simples de final de semana. No Brasil o ano só começa depois do carnaval... No Brasil, o carnaval não serve apenas como festa da carne, da colheita, da alegria e da luxúria. Aqui, através de uma estruturação histórica e cultural, o carnaval marca o início de um período sórdido nas rotinas labutarias da imensa parte dos trabalhadores. Em nosso calendário, após o carnaval, são poucos os momentos de descanso/feriado. E há de se acrescentar que nenhum desses momentos está relacionado de forma tão direta a um ritual da carne, da fartura e da luxúria. Mesmo quando consideramos os dias de São João, Páscoa e Natal, rituais imensos no Brasil e em países de colonização cristã, nos quais os significantes culturais expressos não estão tão declaradamente relacionados a concepções “imorais”, como são os significantes culturais hegemônicos expressos no carnaval brasileiro. Outro ponto fundamental para a análise do carnaval, é observarmos esse imenso ritual no que o caracteriza enquanto um recuo produtivo. Uma pausa institucionalizada em nosso calendário, afasta os trabalhadores de suas funções, ao mesmo passo que, ao ser aglutinada pela lógica capitalista, o período “improdutivo” do carnaval-mercadoria é capaz de inflar a economia, através do consumo exacerbado incentivado neste período.
Há de se ressaltar, que esse recuo produtivo é expresso nas estruturas organizacionais do trabalho em qualquer