Carna
Entendendo o Folclore e a Cultura Popular 1
Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti
A palavra folclore provém do neologismo inglês folk-lore (saber do povo) cunhado por William John Thoms, em 1846, para denominar um campo de estudos até então identificado como “antiguidades populares” ou “literatura popular” 2 . Nesse sentido amplo de “saber do povo”, a idéia de folclore designa muito simplesmente as formas de conhecimento expressas nas criações culturais dos diversos grupos de uma sociedade. Difícil, portanto, dizer onde começa e onde termina o folclore, e muita tinta já correu na busca de definir os limites de uma idéia tão extensa. É o frevo, o chorinho, o xote, o baião, a embolada, mas será também o samba, o funk, o rock? É o Natal, a Páscoa, o Divino, o Bumba-meu-boi , mas será também o desfile das escolas de samba e o festival dos Bumbás de Parintins? É o artesanato em barro, madeira, trançado, mas será também a arte individualizada de Louco, o artista baiano Boaventura da Silva Filho (1932-1992) ou de G.T.O, o artista mineiro Geraldo Teles de Oliveira (1913-1990) ? 3 A verdade é que, como sempre ocorre, a tentativa de definição dessa área de conhecimento pela postulação de uma natureza inerente a um objeto, no caso "O FOLCLORE", não leva a lugar nenhum exceto a uma infindável discussão acerca de suas fronteiras (isso sim, mas aquilo não; isso talvez, aquilo nunca, ou quem sabe algum dia se observadas determinadas condições) que insistem em se desfazer assim que constituídas. A discussão interessante situa-se num outro plano. É preciso compreender o folclore e a cultura popular não como fatos prontos, que existem na realidade do mundo, mas como um campo de conhecimentos e uma tradição de estudos. Isso quer dizer que essas noções não estão dadas na natureza das coisas. Elas são construídas historicamente, dentro de um processo civilizatório, de acordo com diferentes paradigmas conceituais e, portanto, seu significado varia ao longo do tempo. Para se