Carl Jung
1. A AMEAÇA QUE PESA SOBRE O INDIVÍDUO NA SOCIEDADE MODERNA
488 O que nos reserva o futuro? Embora nem sempre com a mesma intensidade, esta pergunta preocupou a humanidade em todos os tempos. Historicamente, é sobretudo em épocas profundamente marcadas por dificuldades físicas, políticas, econômicas e espirituais que o ser humano volta seus olhos angustiados para o futuro e se multiplicam então as antecipações, utopias e visões apocalípticas. Lembremos, por exemplo, a época de Augusto, no início da era cristã, com suas expectativas milenaristas, ou as transformações sofridas pelo espírito ocidental ao final do primeiro milênio depois de Cristo. Às vésperas do ano 2000, vivemos hoje um tempo dilacerado pelas imagens apocalípticas de uma destruição planetária. O que significa o corte que divide a humanidade em dois lados e se exprime como uma "cortina de ferro"? O que poderá suceder a nossa cultura e a nossa própria humanidade se as bombas de hidrogênio vierem a ser detonadas, ou se as trevas do absolutismo de Estado chegarem a recobrir toda a Europa?
489 Não temos qualquer razão que nos permita considerar com superficialidade esta ameaça. Por toda parte do mundo ocidental, já existem minorias subversivas e incendiárias prontas para entrar em ação, que gozam da proteção de nossa humanidade e de nossa consciência jurídica. Face à disseminação de suas idéias, nada podemos contrapor a não ser a razão crítica de uma certa camada da população, espiritualmente estável e consciente. Todavia, não se deve superestimar a força desta camada. Ela varia imensamente de um país para outro, dependendo, em cada região, da educação e formação próprias de seu povo e também dos efeitos provocados pelos fatores de destruição de natureza política e econômica. Baseados em plebiscitos, podemos estabelecer a estimativa otimista de que essa camada corresponde, no máximo, a sessenta por cento dos eleitores. Contudo, isso não desfaz uma visão mais pessimista,