carandiru
"Nunca vi ninguém matar aqui", diz o velho Jeremias, sobrevivente de 15 rebeliões. “Para meter a bicuda naquele que vai morrer, chega a juntar vinte, trinta ou mais prisioneiros. Isso aqui é a maior covardia”.
Cada pavilhão tem sua clientela própria. O critério da distribuição obedece às regras básicas. Exemplo: art. 213 – estupro – é encaminhado para o pavilhão cinco; reincidentes, no oito; primários, nove. Os raríssimos universitários vão morar nas celas individuais do pavilhão quatro. Este poderia ser o mais privilegiado. Contém menos de quatrocentos presos. Deveria abrigar, além dos universitários, o Departamento de Saúde e Enfermaria. Mas, por necessidade de proteção aos marcados para morrer, a direção se viu obrigada a criar um setor especial, no térreo, denominado “Masmorra”, de segurança máxima.
É o pior lugar da cadeia. Ali ficam sem banho de sol, trancados o tempo todo para escapar do grito de guerra do crime. Convivendo com ratos e baratas, com o cheiro de gente aglomerada e a poluição de fumaça de cigarro. A masmorra aloja aqueles que perderam a possibilidade de conviver com os companheiros. Mesmo dali, aceita ser transferido para outro pavilhão, pois o instinto de conservação da vida fala mais alto. Há ainda neste pavilhão uma galeria cujas celas são identificadas com um cartão: “DM”- Doentes Mentais. Como não existe serviço especializado em psiquiatria na casa, o critério para lhes atribuir tal rótulo é incerto e a medicação psiquiátrica que recebem é praticamente a mesma para todos.
Também para o pavilhão quatro são