Capítulo 1-2 Civilização feudal, Baschet
A construção da imagem do período medieval pode ser definida pela sua dubiedade. Os estudos produzidos sobre esse período são marcados por dois extremos: se por um lado temos, no século XIX, uma valorização maior de toda a cultura medieval, no século XVIII a filosofia retrata um universo de trevas, pobreza intelectual e estagnação do ser humano.
Entretanto, a hoje conhecida assimilação entre idade média e obscurantismo só nasceria no século XVIII. Para os filósofos iluministas do século das luzes, a idade média foi um período de estagnação econômica, despotismo político e fanatismo religioso. O século XVIII, segundo os iluministas, representaria a antítese do período medieval: a liberdade econômica e o esclarecimento, oriundos do progresso da razão. No século XIX outro movimento intelectual e artístico contestaria as idéias iluministas e revitalizaria as virtudes medievais: o romantismo. Os filósofos românticos ressaltavam a tese de que o período medieval foi uma era muito mais “espiritual” e “moral” do que o “frio” século das luzes. Desde o século XVIII, o estudo da idade média encontrasse nessa dicotomia, entre uma imagem positiva e outra totalmente negativa.
Ao avaliarmos os contextos sociais, políticos e culturais, tanto do século XVIII quanto do século XIX, podemos concluir que a imagem da idade média foi usada pelos intelectuais renascentistas e iluministas com o objetivo de dar mais legitimidade aos progressos de suas respectivas épocas. A associação entre período medieval e a sua imagem obscurantista se percebe até hoje: o termo “medieval” - além de remeter ao período histórico propriamente dito -,