capitulo estudar pedro demo
DEMO, Pedro. Estudar, Metodologia para quem quer aprender; 1° ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Estudar é também uma arte e, como tal, depende muito de motivação. Motivação, no entanto, não implica necessariamente prazer, em especial prazer físico imediato. É inevitável estudar também o que não nos dá prazer, se isto for importante. Estudo é também trabalho, dedicação, esforço, renúncia. Meu objetivo, neste capítulo, é questionar a maneira como, em geral, se estuda entre nós, sem pesquisa, sem elaboração, sem leitura sistemática, sem desconstrução e reconstrução. Entendo por estudar a dedicação sistemática e motivada à desconstrução e reconstrução do conhecimento, na condição de sujeito capaz de interpretar com autonomia. O estudo bem feito sempre resulta em autoria, o que retira do interesse procedimentos de cópia, transmissão, aquisição. Em sociedades que prezam mais o conhecimento como fundamento imprescindível da autonomia do indivíduo e da sociedade, bem como da economia, estudar não se vincula a procedimentos instrucionistas, mas tendencialmente à dedicação desconstrutiva/ reconstrutiva sistemática.
Quando se faz greve na escola ou universidade, suspendem-se aulas, como se aula fosse cerne da escola e da universidade. Quando a greve termina, repõem-se aulas, mesmo que isto seja efetivado de modo sempre canhestro. A noção de escola de tempo integral está em geral, atrelada à expectativa de maior tempo de aula ou, pelo menos, de maior tempo de permanência na escola. Estudar não é o sentido central, mas ter aula. Aprender não advém necessariamente de ensinar, porque é dinâmica de dentro para fora, tendo o aprendiz na condição de sujeito, não de ouvinte. Relembrando Sócrates, hoje tão apreciado também em ambientes virtuais de aprendizagem, nunca ensinou, nunca deu aula, nunca passou prova, e é considerado o educador dos educadores. Aprender pode encontrar em aulas algum suporte, mas nada, além disso. Aula só faz sentido, se o aluno aprender