Cap. I O Capital
A MERCADORIA
1. Os dois fatores da mercadoria: Valor de uso e valor
(substância do valor, grandeza do valor)
A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma “imensa coleção de mercadorias”76 e a mercadoria individual como sua forma elementar. Nossa investigação começa, portanto, com a análise da mercadoria.
A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa.77 Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção.
Cada coisa útil, como ferro, papel etc., deve ser encarada sob duplo ponto de vista, segundo qualidade e quantidade. Cada uma dessas coisas é um todo de muitas propriedades e pode, portanto, ser útil, sob diversos aspectos. Descobrir esses diversos aspectos e, portanto, os múltiplos modos de usar as coisas é um ato histórico.78 Assim como também o é a descoberta de medidas sociais para a quantidade das coisas úteis. A diversidade das medidas de mercadorias origina-se em parte da natureza diversa dos objetos a serem medidos, em parte de convenção.
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76 MARX, Karl. Zur Kritik der politischen Oekonomie. Berlim, 1859, p. 3.
77 "Desejo inclui necessidade, é o apetite do espírito e tão natural como a fome para o corpo.
(...) a maioria (das coisas) tem seu valor derivado da satisfação das necessidades do espírito."
(BARBON, Nicholas. A Discourse on Coining the New Money Lighter. In Answer to Mr.
Locke’s Considerations etc. Londres, 1696. p. 2-3.)
78 "Coisas têm uma intrinsick vertue“ (isto para Barbon é a específica designação para valor de uso) ”que é igual em toda parte, assim como a do ímã de atrair o ferro" (op. cit., p. 6).
A propriedade do ímã