CAP III LIVRO HISTORIA DA LOUCURA - A NOVA DIVISÃO
Segundo Foucault (2010) afirma que no decorrer do século XVIII, alguma coisa mudou na loucura. Houve de início, esse medo que parece ligar o desatino às velhas obsessões, devolvendo-lhe uma presença que o internamento havia conseguido evitar ou quase. Contudo, não é só isso: lá mesmo onde a loucura havia sido deixada em repouso, no espaço homogêneo do desatino, realiza-se um lento trabalho, muito obscuro, mal formulado e do qual se percebem apenas os efeitos superficiais; uma onda profunda deixa que a loucura reapareça, a qual tende com isso a isolar-se e a definir-se por si mesma.
Portanto é difícil estabelecer com certeza se o número dos loucos aumentou realmente no século XVIII, isto é, numa proporção maior que o conjunto da população. Este número só se torna perceptível para nós a partir dos algarismos do internamento que não são necessariamente representativos, e isto, Primeiro, porque a motivação do internamento freqüentemente permanece obscura, e, segundo, porque é sempre maior o número daqueles que se reconhecem como loucos, mas que deixam de ser internados. Nos primeiros anos da Salpêtrière, se for levantado o total das mulheres encerradas nos pavilhões da Magdeleine, de SaintLevèze, de Saint-Hilaire, de Sainte-Catherine, de Sainte-Elizabeth, bem como nas prisões, tem-se o total de 479 pessoas, das quais se pode dizer, grosso modo, que são consideradas como alienadas.
O desenvolvimento dessa curva não deixa de ser estranho. Não apenas não segue exatamente a evolução dos internamentos, nem o crescimento da população, como também não parece responder à rápida ascensão do receio que suscitaram no século XVIII todas as formas de loucura e desatino. O que influiu sobre esses números, e que diminuiu guardadas as devidas proporções, o número dos loucos encerrados nos antigos asilos, foi a abertura, nos meados do século XVIII, de toda uma série de casas destinadas a receber exclusivamente os insensatos. No entanto, sua significação é essencial. Já