Canal do panama
Durante 300 anos, os homens sonharam com um caminho mais curto entre o Pacífico e o Atlântico. Inaugurado em 1914, o Canal do Panamá dividiu um continente e uniu dois oceanos
Tiago Nogueira de Noronha | 01/07/2004 00h00
Unir o oceano Atlântico ao Pacífico é uma idéia que surgiu no século 16, com a colonização da América espanhola. A descoberta das jazidas de ouro e prata na costa do Pacífico, sobretudo no Peru e no México, aguçou o interesse dos europeus de encontrar uma forma eficaz de transportar toda essa fortuna. Ouro é bom, mas pesa. Até então, o acesso à costa do Pacífico só era possível com a circunavegação da América pelo sul, passando pelo estreito de Magalhães. Além da longa distância, os ventos e as fortes correntes marinhas tornavam a viagem um inferno. E os naufrágios, freqüentes.
Tão preciosa carga merecia uma rota mais segura e rápida. Dona de praticamente o continente todo, a Coroa espanhola traçou no mapa a menor distância para dividi-lo em dois: nascia a Rota Imperial, que cortava o istmo do Panamá, bem no meio do continente. Na época, a travessia podia ser feita de duas maneiras. Utilizando somente via terrestre, da cidade de Panamá (costa oeste) a Portobelo (costa leste), seguia-se em lombo de mulas numa viagem que demorava cerca de 12 dias. Pela via terrestre-fluvial, alternando mulas e jangadas pelo rio Chagres, os espanhóis levavam até 30 dias.
A riqueza que cruzava esses quase 90 quilômetros atraiu a atenção de aventureiros, ladrões e traficantes de todas as partes que, às vezes associados a escravos fugidos (os cimarrones), conhecedores da geografia local, atacavam e incendiavam portos e vilas e assaltavam caravanas. Por 200 anos, mesmo após o declínio da mineração, o lugar foi o mais perigoso do continente.
Em 1821, o Panamá declarou-se independente da Espanha e aderiu à Grã-Colômbia (Nova Granada, Venezuela e Equador), libertada dois anos antes por Simon Bolívar. Mas foi a descoberta de ouro na