CAMUS, Albert
Revista Mensal - Ano II - Número 13 - Junho de 2002 - ISSN: 1519.6186
Rosângela Rosa Praxedes*
Resumo:
Este artigo discute a trajetória do escritor argelino Albert Camus, para entendermos a crise de identidade resultante de sua vida na fronteira entre universos culturais distintos, próprios de seu país de origem, a Argélia, e do país no qual vive na maturidade, a França, e que provoca no autor uma situação de liminaridade e ambiguidade em relação ao processo colonial existente entre os dois países.
Muito já se escreveu sobre a obra de Albert Camus, e todos reconhecem sua importância para a literatura mundial. Há, porém uma questão sempre recorrente quando o assunto é a Argélia: Camus, filho de franceses, nasceu e cresceu na África, assimilou a ideologia colonialista francesa e renegou as influências africanas, esquecendo-se das injustiças e violências cometidas contra argelinos em nome da colonização?
Não há dúvida quanto ao fato de que o autor Camus elabora sua obra sob influência do sistema cultural eurocêntrico, mas, o que muitas vezes se esquece é que em seus romances a Argélia resiste insistentemente como uma
Page 2 bela e sedutora paisagem de fundo. Camus divide-se entre dois mundos diversos, e tenta conciliar em sua expressão esta dualidade. O fato de ter passado a infância em um bairro pobre, fronteiriço aos bairros árabes de Argel, marcou profundamente sua obra e seu olhar diante dos povos colonizados.
Viver entre culturas tão diferentes oportunizou-lhe um embate pessoal e conflituoso que se reflete em sua obra, principalmente no que se refere a questão argelina. Em trechos de sua biografia mais recente (TODD, 1998:739), percebemos parte destes conflitos nas palavras do próprio Camus.
As indagações e problemas do autor Camus não se restringem à sua própria identidade. Seus romances e artigos de jornais discutem temas que variam das questões políticas da época a problemas filosóficos, mas