Camillo de jesus lima
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QUANDO ASSASSINAM CRIANÇAS
Flameja, olho feroz, um sol de brasa.
Voa no céu a lúgubre coorte
De asas negras de aviões lançando morte.
Troa e atroa a metralha e tudo arrasa.
Dir-se-ia que Satã, no roçar da asa,
Semeara o mal e o horror, de sul a norte.
A terra é tinta de um vermelho forte,
— Sangue que de mil veias extravasa.
Vozes pedem socorro, desvairadas.
Pernas sangrentas... carnes laceradas...
Trágicos trismos de mil bocas tortas...
E a sirene gargalha, em voz tremenda,
— Ogre mau e fatídico de lenda, —
Vendo as feridas das crianças morta.
CHUVA
Negra, a noite enegrece o espaço opaco em torno.
Asas desfilam no ar, sumindo na penumbra.
O ar é parado e abafadiço. Como um forno,
A noite marcha e a terra inteira tinge a obumbra.
Rasga o colo do céu rubro rubi. Deslumbra
De um raio em ziguezague o rutilante adorno.
Tra o trovão após o raio que relumbra.
Morre na noite a dispnéia de um bochorno.
O arvoredo, a tremer, ergue os braços ao léu.
A terra ardente é toda um pedaço de gula,
Um desejo de brasa a pedir chuva ao céu.
E a chuva, em ricochete, abre o céu carregado,
Esperneia, peralta; em pingos grossos, pula;
E tomba, e treme, e tamborila no telhado...
ESTÓRIA DE NATAL
As ovelhas estão babando.
Os bois estão mugindo.
Os camponeses estão cantando.
O primeiro trouxe ouro e ele voltou os olhos para a parede.
O segundo trouxe mirra e ele mandou que a derramasse nos cárceres onde os condenados gemiam.
O terceiro, porque nada mais tinha, trouxe-lhe apenas uma gota de sangue
E ele abriu a face num sorriso
Onde havia o reflexo da estrela.
OFERENDA
Não fui vencido. Hoje a teus pés pequenos
Caio, sou teu, Rainha dos meus trenos,
Tonto da luz do luar alentador
Dos teus olhos que são lagos serenos,
Fontes de vida do meu grande amor!
VAMOS BRINCAR DE ROMÂNTISMO
Nunca te poderia dar um momento de romantismo
Com a presença do meu sangue,
A presença