Calvino
João Calvino:
O Humanista Subordinado ao Deus da Palavra – a propósito dos 490 anos de seu nascimento –
Hermisten Maia Pereira da Costa*
“Revolução é seguida por reconstrução e consolidação. Para esta tarefa Calvino foi providencialmente preordenado e equipado por gênio, educação e circunstâncias.” – Philip
Schaff.1
INTRODUÇÃO
Em 28 de abril de 1564, Calvino convocou os ministros de Genebra à sua casa; tendo-os à sua volta, despediu-se.2 A certa altura, disse:
A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus.3
Cerca de 300 anos depois, um erudito católico francês, Ernest Renan (1823-1892),4 como um dos primeiros historiadores da França, revelou a sua incompreensão diante da figura inquietante daquele personagem distante no tempo e nas idéias, mas que continuava vivo em seu país e em quase todo o mundo ocidental. Assim expressou ele a sua perplexidade em seus Estudos da História das Religiões:
Era Calvino um daqueles homens absolutos que parecem ter sido vazados de um só jato num molde, e que se estudam por meio de um simples olhar. Uma carta, um gesto é bastante para se formar deles um juízo... Não dava importância a riquezas, nem a títulos, nem a honras; indiferente às pompas, modesto no viver, aparentemente humilde, tudo sacrificava ao desejo de tornar os outros iguais a si. Excetuando Inácio de Loiola, não conheço outro homem que pudesse rivalizar com ele nestes raros predicados. É surpreendente como um homem cuja vida e cujos escritos atraem tão pouco as nossas simpatias se tornasse o centro de um tão grande movimento e que suas palavras tão ásperas, sua