Cafeína
Sebastião Renato Valverde[1]
A sociedade brasileira assistiu estarrecida nos noticiários das últimas semanas a três principais manchetes: a guerra no Iraque, a pneumonia asiática e o desastre ambiental em Cataguases, MG. Quanto a esta última, gostaria, na condição de cidadão cataguasense, engenheiro florestal e professor de Política Florestal (UFV), tecer alguns comentários importantes para a elucidação de fatos que passaram despercebidos na imprensa e que propiciarão o entendimento do ocorrido na lagoa de sedimentação da antiga Fábrica de Celulose e Papel Cataguazes. Em razão da complexidade do assunto, desde já, peço desculpas ao leitor pela extensão do texto e algumas delongas, mas que, no entanto são fundamentais para os esclarecimentos e para que sejam compreendidas as minhas colocações. O que me motivou a escrever esta nota foram os absurdos mostrados na imprensa algumas atitudes irresponsáveis de parte do Poder Público, enfim perplexidades que me chocaram e sobre as quais espero discorrer. Inicialmente, gostaria de ressaltar o valor histórico, social e econômico desta fábrica para o município de Cataguases. Ela, juntamente com as antigas indústrias do município, é um marco no desenvolvimento local, ou quiçá para a região da Zona da Mata Mineira, além de ser importante fonte geradora de empregos, rendas e impostos, e como tal merece todo apoio das autoridades locais, estaduais e federais. Trata-se de uma fábrica com mais de meio século de existência, que passou por todas as turbulências econômicas e, que hoje, é apenas uma indústria de papel reciclado de pequeno porte, comparada com as grandes empresas do setor. Até o final da década de 80, ela produzia celulose (matéria-prima do papel) e papel, utilizando-se de bambu e, posteriormente, de madeira de eucalipto. Para a produção de celulose por meio do cozimento da madeira usava-se, o Hidróxido de Sódio (NaOH), vulgo soda